Dr. Daniel Coelho - CRM 15270 RQE 22897
CRM-RN: 15270
RQE: 22897
Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD)
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)
International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO) member
A doença do refluxo gastro-esofágico acontece quando o ácido ou comida do estômago volta para o esôfago, garganta ou boca interferindo com a vida do indivíduo. Quando o ácido volta, costuma vir acompanhado de queimação na região do centro do peito, chamamos esse sintoma de pirose. Quando além do ácido, algum resíduo de alimento é sentido voltar em direção à boca chamamos de regurgitação. A regurgitação é diferente do vômito, nesse último, há esforço com contratura da parede abdominal, esse esforço é ausente na regurgitação. Um episódio eventual de pirose ou regurgitação não significa que a pessoa tenha doença do refluxo gastroesofágico, mas os pacientes que tem a doença do refluxo-gastroesofágico tem esses sintomas frequentemente e acabam por procurar assistência médica para tentar aliviar os sintomas.
A maioria dos pacientes que tem doença do refluxo-gastroesofágico conseguem conviver bem com a doença, muitos fazendo uso de medicações por tempo prolongado. Porém alguns pacientes podem se beneficiar do tratamento cirúrgico, para tanto, avaliamos as seguintes condições.
1- Tempo de evolução da doença
2- Intensidade dos sintomas
3- Não resposta ao tratamento clínico
4- Migração do estômago (parcial ou total) para o tórax, causando desconforto (falta de ar, taquicardia)
5- Presença de complicações da doença: inflamação severa do esôfago, com estenose ou alterações da mucosa do órgão (esôfago de Barret).
A cirurgia pode ser feita por videolaparoscopia ou pelo método aberto, (cirurgia com corte). A cirurgia consiste em um fechamento da área em que o estômago se junta com o esôfago no abdômen (hérnia de hiato sendo realizada hiatoplastia) e a confecção de uma válvula anti-refluxo (uma parte do estômago é costurada na volta do esôfago para evitar que o conteúdo do estômago volte em direção a boca servindo como uma válvula). Esses procedimentos são feitos em centro cirúrgico com anestesia geral e o paciente fica internado. Atualmente, são possíveis internações tão curtas quanto 24 hs ou menos. A videolaparoscopia facilitou bastante a execução desses procedimentos com riscos baixos atualmente. O tratamento cirúrgico permite um bom controle dos sintomas de forma prolongada, porém recidiva de sintomas vários anos após a cirurgia podem acontecer. Os pacientes costumam relatar uma importante melhora na qualidade de vida, melhorando muito sua relação com as alimentações. A cirurgia de doença de refluxo-gastroesofágica pela técnica de hiatoplastia + válvula, que é a mais usada é indicada para pacientes que não apresentem obesidade mórbida. Esses últimos, são melhor tratados com cirurgia bariátrica, que já pode ser um excelente tratamento para a doença do refluxo, além de tratar a obesidade e as outras doenças associadas se for o caso.
COMPLICAÇÕES POSSÍVEIS DA CIRURGIA DE DOENÇA DO REFLUXO GASTRO-ESOFÁGICO:
1- Necessidade de conversão para cirurgia aberta (cirurgia com corte).
2- Formação de hérnia no local das incisões.
3- Perfuração do estômago ou esôfago causando fístulas
4- Dificuldade para engolir alimentos, que em geral tem duração de poucas semanas, e que pode ser minimizada com mastigação adequada e deglutição de pequenas quantidade de alimentos.
5- Lesão do baço, provocando sangramento e necessidade de esplenectomia (retirada do baço).
6- Plenitude abdominal (inchaço no estômago) após alimentação, tem duração de poucas semanas, mas pode persistir por bastante tempo.
7- Dificuldade para arrotar, bem como diminuição do nº de arrotos, o que é definitivo.
8- Recidiva da doença, obrigando a realização de nova cirurgia (ver abaixo)
9- Trombose venosa profunda
10- Embolia pulmonar, em geral muito grave, podendo levar a óbito
11- Infecções
12- Possibilidade de cicatrizes com formação de quelóides (cicatriz hipertrófica grosseira)
13- Pneumotórax
Complicações relacionadas a válvula: A válvula anti-refluxo usa tecidos biológicos (parte do estômago) para evitar que o conteúdo do estômago volte para o esôfago. Essa parte do estômago continua íntegra de forma que a cirurgia pode ser desfeita (a cirurgia é reversível). Ao usar tecidos biológicos fixados com pontos sintéticos, essas válvulas podem ter modificações com o tempo dependendo de cada indivíduo. Pode ocorrer a migração da válvula, que é ela ir para cima em direção ao esôfago, causando dificuldade para se alimentar. A válvula também pode ser desfeita espontaneamente pelo organismo ocasionando retorno dos sintomas de refluxo.
Perda de eficácia da cirurgia com o tempo: A cirurgia de refluxo pode perder sua “potência” com o tempo, ocasionando o retorno dos sintomas, ou seja, não é possível ter certeza quanto tempo o efeito da cirurgia vai durar, assim como NÃO HÁ QUALQUER GARANTIA QUE O PACIENTE VAI CONSEGUIR FICAR SEM TOMAR MEDICAÇÃO PARA REFLUXO DEPOIS DA CIRURGIA. Em casos de complicações com a válvula ou falha terapêutica, nova cirurgia pode ser feita novamente, porém as reintervenções costumam envolver riscos maiores que as cirurgias iniciais.
O tratamento médico da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é focado em aliviar os sintomas, reduzir a ocorrência de refluxo ácido e prevenir complicações a longo prazo. Existem diferentes abordagens terapêuticas disponíveis, que podem incluir medidas de estilo de vida e medicamentos. Como citado acima, pode haver indicação de cirurgia dependendo de uma avaliação da gravidade da doença e de riscos e benefícios esperados.
As medidas de estilo de vida são geralmente recomendadas como primeira linha de tratamento e podem ajudar a reduzir os sintomas da DRGE.
Evitar alimentos e bebidas que desencadeiam o refluxo, como alimentos gordurosos, picantes, cítricos, café e álcool.
Evitar deitar imediatamente após as refeições
Elevar a cabeceira da cama durante o sono
Perder peso se necessário
Evitar o uso de roupas apertadas.
Os medicamentos são amplamente utilizados no tratamento da DRGE e podem ser divididos em duas categorias principais:
Os antiácidos, como hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio e carbonato de cálcio, ajudam a neutralizar o ácido estomacal, proporcionando alívio temporário dos sintomas.
Os supressores de ácido, como inibidores da bomba de prótons (omeprazol, esomeprazol, pantoprazol) e antagonistas do receptor H2 (cimetidina, ranitidina), reduzem a produção de ácido no estômago, ajudando a controlar o refluxo ácido de forma mais eficaz.
Endoscopia digestiva alta
Phmetria esofágica (com ou sem impedanciometria)
Manometria esofágica
Seriografia esofágica
É importante ressaltar que o tratamento da DRGE deve ser individualizado, levando em consideração a gravidade dos sintomas, a presença de complicações, as preferências do paciente e outros fatores. É fundamental buscar a orientação de um médico especialista, como um gastroenterologista ou cirurgião do aparelho digestivo, para obter um diagnóstico adequado e um plano de tratamento personalizado. Não fique com dúvidas, agende uma consulta se você tem perdido qualidade de vida por causa de refluxo.
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