Hérnias de parede abdominal


Dr. Daniel Coelho 

Cirurgião do aparelho digestivo 


CRM-RN: 15270

RQE: 22897

Membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD)

Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM)

International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders (IFSO) member


O que é uma hérnia? Como e quando tratar?

 

Hérnia inguinal:


Uma hérnia inguinal é uma condição na qual ocorre uma protuberância ou saliência na região da virilha ou da região inguinal. Ela se desenvolve quando uma porção de tecido, normalmente uma parte do intestino ou gordura abdominal, projeta-se através de uma fraqueza ou abertura na parede muscular do abdômen. A hérnia inguinal é mais comum em homens, embora também possa afetar mulheres.

Existem dois tipos principais de hérnia inguinal: a hérnia inguinal indireta e a hérnia inguinal direta. A hérnia inguinal indireta ocorre quando uma fraqueza congênita ou adquirida no anel inguinal interno permite que uma parte do intestino desça pelo canal inguinal, o canal estreito por onde passam os vasos sanguíneos e os nervos para os órgãos genitais externos. Já a hérnia inguinal direta ocorre quando uma fraqueza ou ruptura na parede abdominal permite que o intestino ou a gordura abdominal empurrem através da parede abdominal, mas não desça pelo canal inguinal.

As hérnias inguinais podem se manifestar como uma protuberância visível ou palpável na virilha. Essa protuberância pode ser mais evidente quando a pessoa está em pé, tossindo ou fazendo esforço. Além disso, a hérnia inguinal pode causar desconforto, dor ou sensação de peso na área afetada. Em alguns casos, a hérnia pode ficar presa ou encarcerada, o que significa que o tecido herniado fica aprisionado na abertura e não pode ser empurrado de volta para dentro do abdômen. Isso pode causar sintomas mais intensos, como dor aguda, náuseas e vômitos, sendo uma situação de emergência que requer atendimento médico imediato.

O tratamento para hérnia inguinal geralmente envolve cirurgia. A cirurgia de hérnia inguinal é realizada para reposicionar o tecido herniado de volta ao abdômen e fortalecer a parede abdominal enfraquecida. Existem diferentes técnicas cirúrgicas disponíveis, incluindo a reparação aberta, na qual uma incisão é feita na área da hérnia, e a reparação laparoscópica, que utiliza uma abordagem minimamente invasiva com pequenas incisões e uso de um laparoscópio.

É importante procurar atendimento médico adequado se você suspeitar de uma hérnia inguinal, pois apenas um médico pode fazer o diagnóstico correto e recomendar o tratamento apropriado. Ignorar ou adiar o tratamento da hérnia inguinal pode levar a complicações mais sérias, como estrangulamento da hérnia, que requerem intervenção médica de emergência.



Hérnia umbilical:


Uma hérnia umbilical é uma protuberância ou saliência que se desenvolve na área ao redor do umbigo, conhecido como cicatriz umbilical. Essa condição ocorre quando uma parte do intestino ou do tecido abdominal protrui através de uma fraqueza ou abertura na parede muscular do abdômen, resultando em uma saliência visível ou palpável.

As hérnias umbilicais são mais comuns em bebês recém-nascidos e em mulheres durante a gravidez devido a alterações na parede abdominal. Em recém-nascidos, a hérnia umbilical ocorre devido ao fechamento incompleto do anel umbilical, que é uma abertura na parede abdominal através da qual o cordão umbilical passava durante a gestação. Geralmente, essas hérnias desaparecem espontaneamente até os 2 anos de idade, à medida que o anel umbilical se fecha completamente.

Em adultos, a hérnia umbilical pode se desenvolver como resultado de fatores que enfraquecem a parede abdominal, como obesidade, gravidez múltipla, esforço físico excessivo, cirurgias abdominais prévias ou doenças que causam pressão intra-abdominal aumentada, como ascite ou tosse crônica.

Os sintomas da hérnia umbilical podem variar de pessoa para pessoa. Em muitos casos, a protuberância na área do umbigo é a única manifestação evidente. No entanto, em alguns casos, a hérnia umbilical pode causar desconforto, dor, sensação de pressão ou sensibilidade na região. Esses sintomas podem piorar ao tossir, levantar objetos pesados ​​ou realizar atividades que exijam esforço abdominal.

O tratamento para hérnia umbilical depende da idade do paciente, do tamanho da hérnia, dos sintomas associados e da presença de complicações. Em bebês, a hérnia umbilical geralmente se resolve espontaneamente sem a necessidade de intervenção médica. No entanto, se a hérnia persistir além dos 2 anos de idade, causar sintomas significativos ou se tornar estrangulada (quando o tecido herniado fica preso e interrompe o suprimento sanguíneo), pode ser necessária a cirurgia para reparar a hérnia.

Em adultos, a cirurgia é frequentemente recomendada para reparar hérnias umbilicais sintomáticas ou estranguladas. O procedimento cirúrgico envolve a reposição do tecido herniado de volta ao abdômen e o fortalecimento da parede abdominal enfraquecida. A cirurgia pode ser realizada por meio de uma incisão direta na área da hérnia (reparo aberto) ou usando técnicas minimamente invasivas com auxílio de um laparoscópio (reparo laparoscópico - geralmente reservada para casos complexos).

É importante buscar atendimento médico adequado se você suspeitar de uma hérnia umbilical, especialmente se ocorrerem sintomas como dor, desconforto ou mudanças na aparência da protuberância. Apenas um médico pode fazer o diagnóstico correto e recomendar o tratamento apropriado com base nas características específicas da hérnia e da relação de risco x benefício do procedimento cirúrgico.



Principais complicações da correção de hérnia:


Embora seja considerada uma cirurgia comum e segura, como qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos associados, incluindo o risco de        sangramento. 

Durante a correção da hérnia, o cirurgião realiza incisões no abdômen para acessar a hérnia e corrigí-la. Durante esse processo, é possível ocorrer sangramento de pequenos vasos sanguíneos presentes na área cirúrgica. Esses sangramentos geralmente são controlados pelo cirurgião durante a cirurgia.

No entanto, em alguns casos, o sangramento pode ser mais significativo e exigir medidas adicionais para controlá-lo. Alguns fatores que podem aumentar o risco de sangramento durante a colecistectomia incluem:

a) Anormalidades na coagulação do sangue: Indivíduos com distúrbios de coagulação, como hemofilia ou uso de medicamentos anticoagulantes, podem apresentar maior risco de sangramento durante a cirurgia.

b) Lesões vasculares: Em casos raros, o cirurgião pode acidentalmente lesar um vaso sanguíneo próximo à vesícula biliar durante a remoção, o que pode resultar em sangramento.

c) Aderências ou inflamação: Se a hérnia estiver aderida a órgãos vizinhos ou houver inflamação significativa na área, o risco de sangramento pode ser maior devido à maior fragilidade dos tecidos.

d) Obesidade: Pacientes com obesidade podem ter uma maior quantidade de tecido adiposo na região abdominal, o que pode tornar a identificação e a hemostasia (controle do sangramento) mais desafiadoras durante a cirurgia.

É importante ressaltar que, embora o risco de sangramento exista, os avanços na técnica cirúrgica e o treinamento dos cirurgiões reduziram significativamente as complicações associadas à correção de hérnia. Além disso, a equipe cirúrgica está preparada para lidar com possíveis complicações, como o sangramento, durante a cirurgia.

Caso ocorra um sangramento significativo durante a correção da hérnia, o cirurgião adotará medidas para controlá-lo, como o uso de suturas, cauterização ou ligadura de vasos sanguíneos. Em casos extremamente raros, pode ser necessário converter a cirurgia laparoscópica em uma abordagem aberta para melhor controle do sangramento.

Embora seja considerada uma cirurgia segura, como qualquer procedimento invasivo, existem riscos associados, incluindo o risco de infecção.

Durante a correção da hérnia, são feitas pequenas incisões no abdômen para acessar o local da hérnia. Essas "portas de entrada" para bactérias podem infectar, independente dos cuidados de esterilização da equipe médica. 

Os principais fatores que contribuem para o risco de infecção em correções de hérnia incluem:

a) Cirurgia de urgênica: Quando as hérnia precisam ser corrigidas de urgência ocorre maior risco de infecção. Quando as alças de intestino ficam presas, pode ocorrer o processo chamado translocação bacteriana, quando as bactérias intestinais passam pela barreira de proteção do intestino atingindo tecidos na volta ou a corrente sanguínea. O ideal é que as correções de hérnias ocorram de forma eletiva.

b) Contaminação durante a cirurgia: Durante a cirurgia, pode ocorrer a introdução de bactérias ou outros microrganismos na ferida cirúrgica. Isso pode acontecer devido à contaminação do ambiente cirúrgico, de instrumentos cirúrgicos ou bactérias presentes na própria ferida cirúrgica. As cirurgias modernas usam pouco contato do ambiente cirúrgico com materiais cirúrgicos pela laparoscopia, mas por mais que seja realizada a degermação do local onde serão feitas as incisões cirúrgicas, a esterelização completa da pele não é possível e, eventualmente, algumas cirurgias podem infectar. 

c) Complicações pós-operatórias: A presença de complicações pós-operatórias, como seromas ou sangramentos no local da cirurgia, pode aumentar o risco de infecção na área cirúrgica.

Para reduzir o risco de infecção, os cirurgiões e a equipe médica seguem protocolos rígidos de controle de infecções, que incluem:



Exames que podem ser necessários na avaliação de hérnias de parede abdominal:


Geralmente o exame físico já estabelece o diagnóstico

Ultrassonografia de parede abdominal

Tomografia computadorizada de abdome

Ressonância magnética nuclear de abdome

Conclusões:

Como você pode perceber pelo texto acima, apesar de comum, as hérnias podem levar a complicações bastante complexas como encarceramento e estrangulamento. Felizmente, a maioria dos pacientes tem fácil resolução do seu problema com uma cirurgia minimamente invasiva, levando a alta e retorno precoces para atividades quotianas sem complicações maiores. Para isso, é importante a escolha de uma equipe de confiança, seguir as recomendações e ter conhecimento sobre sua doença. 

Referências bibliográficas: